#Histories: Raf Simons
Numa semana de desfiles de Milão em que a pandemia de Coronavírus forçou a indústria a repensar seus modelos de apresentação, Raf Simons estreou na direção criativa ao lado de Miuccia Prada, em uma colaboração inédita que deve pautar os rumos da moda nos próximos anos.
.História da moda masculina: Hedi Slimane, Ralph Lauren, Gianni Versace, Dolce & Gabbana
Mais profunda do que apenas uma coleção em parceria, o estilista belga toma parte de todas as decisões do processo com a empresária italiana, depois de quicar entre outras grandes grifes (e seus conglomerados), como Jil Sander, Dior e Calvin Klein.
Raf Simons faz parte de um movimento de estilistas conhecidos por seu trabalho em moda masculina que migram para a moda feminina por sua linguagem precisa da alfaiataria e pelos códigos sutis de elegância e despojamento. Fazem parte deste time: Hedi Slimane na Celine, Kim Jones simultaneamente na Dior Homme e na Fendi.
Nascido em 1968, filho de um vigia noturno e uma faxineira, Raf Simons estudou Design Industrial e começou trabalhando como designer de móveis. Depois, conseguiu um estágio com Walter Van Bereindonck, um dos “Seis da Antuérpia”, um grupo de estilistas que fez sucesso nos anos 1990, logo após se formarem na Royal Academy of Fine Arts de Antuérpia entre 1980 e 1981.
Fazem parte também deste grupo: Ann Demeulemeester, Dries Van Noten, Dirk Van Saene, Dirk Bikkembergs e Marina Yee. Apesar de estilos variados, como o maximalismo de Bereindonck, a linha geral é do minimalismo que marcou a década, com influência de outro belga, Martin Margiela, e o austríaco Helmut Lang.
Foi o primeiro contato de Raf Simons com a moda. Ele também ficaria conhecido pelas linhas minimalistas e uma forte ligação com arte, música, performance e fotografia. Sua marca própria nasce em 1995, misturando cultura jovem e alfaiataria tradicional.
Em 1997 estreia nas passarelas de Paris, já com os uniformes colegiais, o cinema e o noticiário contemporâneo como temas principais de seu trabalho. Foi o primeiro a mostrar uma silhueta esguia na moda masculina, contra as formas amplas dos anos 1980.
Além da Prada, teve uma relação próxima com muitas outras marcas, como a Ruffo Research, para quem desenhou as coleções masculinas de 1999 e 2000, ao lado de Veronique Branquinho (também da Bélgica), uma de suas mais longevas parcerias, que fazia o feminino.
Em 2001, fez um desfile com a temática dos atentados terroristas que vinham acontecendo na Europa na época. A imagem é forte e registra fielmente o seu tempo. Surpreendentemente, aconteceu dois meses antes do 11 de Setembro, em NY, marcando a sua capacidade de ler e traduzir em imagem o mundo a sua volta.
De 2001 a 2005, Raf Simons assumiu a marca Jil Sander, no lugar da estilista alemã também conhecida pelo minimalismo. Foi a primeira vez que fazia também moda feminina. Em 2005 ganhou uma retrospectiva na feira de moda masculina Pitti Uomo, em Florença, com desfile comemorativo, exposição de fotografias e o livro Raf Simons Redux.
Entrou na Dior em 2012, no lugar de John Galliano. Lá, fez seu primeiro desfile de alta-costura, vestiu atrizes no Oscar e ficou até 2016. Em seguida foi para a Calvin Klein, onde ficou até 2018 e se aprofundou na pesquisa de ícones norte-americanos na arte e na cultura pop, como Andy Warhol, Sterling Ruby, Robert Mapplethorpe.
Já fez também muitas colaborações com marcas comerciais, como uma versão do tênis Stan Smith para Adias, uma linha de pólos e malharia para Fred Ferry e mochilas, bolsas e pochetes para Eastpak. Linda Farrow é uma parceira contínua na produção de óculos e acessórios em couro de sua marca própria. Ou seja, tem todas as credencias para prosperar em uma empresa como a Prada.