Os figurinos de Mad Max

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Foi numa maratona na TV à cabo, num domingo de ressaca em casa nessa semi-quarentena que a gente tem vivido, que revi os quatro filmes da série cinematográfica Mad Max. A história começa como a busca vingança de um policial rodoviário, Max Rockatansky (interpretado por Mel Gibson aos 23 anos), após o assassinato de seu colega de trabalho e depois de sua família por uma gangue de motoqueiros.

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O Mad Max original é de 1979 e mostra a distópica Austrália de um futuro próximo, porém não determinado (apesar das comparações recentes com essa virada apocalíptica dos anos 2020 que presenciamos diariamente.) Nele, há uma briga pelo controle das estradas do outback australiano, que serve então de cenário para as perseguições em alta velocidade.

Essa imagem dos carros e motocicletas sob a poeira alaranjada se tornou recorrente nos filmes seguintes e foi inspirada pelo diretor nos protestos na ocasião da crise de petróleo da Opec em 1973, que por conta de cortes na distribuição gerou uma onda de muita violência na Austrália à época.

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O figurino de Max Max se divide até então basicamente entre o uniforme de couro de policial rodoviário do protagonista com o guarda-roupa funcional e anti-conformista dos desajustados antagonistas. Alguns elementos que aparecem aqui serão trabalhados nos próximos Mad Max, como o protetor facial, os restos de animais e as ombreiras esportivas. Mas ainda é mais parecido com “roupas” do que com alegorias.

O motivo do conflito inicial é explicado melhor no segundo filme, no entanto. Max Max: A Caçada Continua (1981) trata da escassez de combustível e da disputa pelas fontes de energia. Isso transforma a história não só na luta pelo controle de uma estrada, mas numa em narrativa sustentável sobre o fim do acesso a recursos naturais, como petróleo. No filme de 2015, a água passaria a ser o commodity principal.

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Neste, Max Rockatansky já está completamente mudado. Sua imagem está bem mais agressiva, com os cabelos um pouco maiores e desfiados. Ainda mantém a base em couro do uniforme de policial rodoviário, porém sem uma das mangas (arrancadas pelos médicos para tratamento após os motoqueiros passarem com os pneus por cima de seu braço, no primeiro filme). Há também o detalhe dos ombros marcantes, construídos com protetores corporais usados na prática de futebol americano.

Sua missão agora é proteger uma comunidade honesta, criada em torno de uma refinaria de petróleo e que por isso detém um dos bens mais importantes da região. Eles precisam de ajuda para transportar uma grande quantidade de gasolina com segurança, e esse é o pano de fundo para as cenas de perseguição na estrada.

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Se no primeiro ainda mostrava um resquício de humanidade, do segundo pra frente o retrato da sociedade como conhecemos já dá sinais de esgotamento, se organizando em uma nova ordem com regras e morais questionáveis. E as previsões não parecem nada boas…

A figurinista Noma Moriceau seguiu a recomendação do diretor George Miller para criar algo pós-apocalíptico e com peças coladas, como se o look fosse montado com o que a pessoa pudesse encontrar onde quer que estivesse. Um visual de sobrevivência!

Todos os elementos do figurino do primeiro filme foram acentuados: os restos animais, os cabelos (des)coloridos e raspados em mullets ou moicanos, as sobreposições e o acabamento rasgado que dá esse tom de fim de mundo. Tem até alguns itens de sex shop!

Em Max Max: Além da Cúpula do Trovão (1985) o cenário do deserto australiano já é completamente devastado e o protagonista vive nas estradas, como um exilado da principal cidade que existe depois de um ataque nuclear, comandada por Tina Turner, a Tia. Seu vestido de malha metálica pesava 55 kg e a cantora teve a cabeça raspada para usar a peruca de moicano.

Quando tem seu carro roubado, o antigo policial rodoviário encontra um grupo de crianças abandonadas, que vivem sozinhas atrás não apenas de gasolina, mas de comida, água e armas… Ele serve então como ponte entre as duas comunidades e vira o responsável pela reintegração pacífica de todos.

Seu estilo já é mais de um beduíno, já que a vida no deserto é uma realidade muito palpável neste mundo, que se passa 20 anos depois do primeiro Mad Max. Seus cabelos estão maiores (até que é cortado quando encontra com os órfãos) e são muitas as sobreposições e amarrações nas roupas.

A continuação de 2015, Mad Max: Fury Road, pode parecer uma sequência cronológica pelo lançamento, mas faz mas sentido se for vista como tendo acontecido antes de Max Max: Além da Cúpula do Trovão. A idade do protagonista sugere essa ordem. E no final do filme de 1985 dá a entender que a história do personagem terminaria por ali.

Detalhes à parte, nessa versão Max Rockatansky (agora vivido por Tom Hardy) divide a tela com Charlize Theron como Imperator Furiosa. Ele não é mais o único vagando pelas estradas desérticas da Austrália, e cruza seu caminho com um grupo de mulheres prisioneiras.

Distantes dos anos 1980, o figurino está menos fantasia e mais “roupa”, talvez para dar um toque de realidade. Mas ainda assim as peças estão com o acabamento rasgado, desbotado e empoeirado da vida a ermo nos desertos.

Por outro lado, os integrantes da gangue estão mais animalescos e inumanos, por meio do recurso de maquiagem e cabelo. Os próprios veículos (carros, motos e caminhões) também estão mais turbinados, como carros de competição. Super 2021…

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