Figurinos do cinema brasileiro
Em homenagem ao Dia do Cinema Brasileiro (19.06), fiz uma pesquisa sobre os looks masculinos mais relevantes das produções nacionais desde 2000. Investiguei títulos de grande projeção e distribuição e outros bastante representativos pela maneira de usar os figurinos na construção dos personagens e da direção de arte dos filmes.
O maior deles é Cidade de Deus (2002), dirigido por Fernando Meirelles e com figurinos de Bia Salgado e Inês Salgado, que retrata a presença marcante da violência e do tráfico na vida em uma favela carioca, geração após geração. Foi indicado ao Oscar em 2004 (Diretor, Roteiro Adaptado, Fotografia e Edição) e outros prêmios internacionais.
Vestindo os atores amadores escalados nas comunidades da cidade, os figurinos refletem a pobreza e a falta de acesso, com roupas esgarçadas e aparentemente descombinadas. Também refletem emblemas de poder dessa realidade, como uniformes esportivos e camisas estampadas.
Há também uma preocupação evidente com joias e bijoux _colares, pulseiras e brincos. Acessórios de metal são normalmente usados como símbolo de status, já os coloridos de contas remetem a um uso religioso.
Repare no uso da cartelas de tons neutros, como característica de um coletivo homogêneo, mas também no uso do sépia para mostrar o tempo passado, uma vez que Cidade de Deus é narrada ao longo de vários anos para contar sua história.
Tanto Tropa de Elite (2007) quanto a sua continuação de 2010 _com o sub-título O Inimigo Agora É Outro_ têm Claudia Kopke como responsável pelos figurinos. Neles, a narrativa é apoiada pelo uso de uniformes e patentes, importantes para mostrar a ascendência hierárquica do Capitão Nascimento (Wagner Moura), líder das operações de rua, até o terno e gravata do cargo de poder na corporação.
Carandiru (2003) mostra a enorme diversidade entre a roupa dos presos, nos figurinos de Cristina Camargo. Peças com logotipos, brasões ou letreiros promocionais simbolizam um meio barato de se vestir, por meio de doações ou compartilhamento entre este determinado grupo de pessoas.
É a estética de “vestir o que tem”, do homem desprivilegiado que serve para retratar esse Brasil no cinema. Alguém que não se ocupa com as frivolidades da moda, ao menos antes de garantir suas necessidades básicas de sobrevivência, proteção e segurança. Por isso mesmo o visual fica uma salada!..
Nesses casos, os figurinos contam as histórias de cada um e definem seus papéis, muitas vezes por sua funcionalidade (cozinheiro, conselheiro, chefe do pedaço…), sem necessariamente hierarquizá-los. Há, novamente, enorme o uso de joias e acessórios em metais como sinais de status de poder.
Diferentemente de quando usamos a roupa para confirmar os perfis demográficos dos personagens, ela faz muitas vezes o papel de elemento principal da história. Como em O Homem do Futuro (2011), em que uma festa à fantasia é o palco para a história leve em que Wagner Moura vive um romance que se desenrola através de muitas viagens no tempo. Cada traje que ele aparece ajuda a marcar o momento cronológico da trama.
Em O Palhaço (2011), os figurinos de Kika Lopes vestem o protagonista do título, que desfaz a dupla de trabalho com seu pai para sair em busca de uma vida melhor. Ou seja, ele tira os figurinos e maquiagens de circo para ser ele mesmo.
À Deriva (2009), de Heitor Dhalia, merece estar nessa lista pelo prestígio de ter o estilista Alexandre Herchcovitch nos créditos dos figurinos. Destaque para as camisas de verão e óculos escuros em Vincent Cassel, que vive Mathias, o pai infiel que desperta uma série de inseguranças em sua filha Filipa, interpretada por Laura Neiva.