O encontro perfeito

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Nem todas histórias de aventuras em apps de pegação são cabeludas como as que venho contando aqui (também com depoimentos de amigos). Ao expor as aflições dos (des)encontros em tempos de internet, damos voz a nuances dos relacionamentos contemporâneos. Cada um tem sua ideia própria do que seria o encontro perfeito, por isso é importante considerar os vários aspectos.

Conto de fadas não existe pra ninguém, essencialmente. Sendo gay, descobrimos isso muito mais cedo. Já começa com a dificuldade de identificar a sexualidade um do outro (com o passar dos anos, vira até  um exercício prazeroso; no começo é um sofrimento só). Maturidade, agenda familiar e de amigos lotada, momento profissional… A casca vai ficando grossa, o tempo curto, e aprende-se a mirar apenas nos valores mais importantes, bem distante do território da idealização.

O que você repara, depois de avaliar a parte física e estética, claro? Hoje isso já se resolve muito cedo no papo, com o escaneamento completo do corpo nu em jpg (também conhecido como nudes). Quem sabe o que te atrai seja demonstrar uma dose de caráter, educação e _seria pedir demais?_ um belo cortejo. Ou você se impressiona com restaurante, comida e bebida caros, carros e grifes? Bom humor, piadas inteligentes e boas referências culturais são atributos valorizados por outros.

Pois eis que me aconteceu algo muito próximo de ter o encontro perfeito _não num sentido de nos apaixonar de primeira, mas de ter sido uma ocasião agradável para dois homens compartilharem jantar, bebida e algumas horas de conversa fiada. Quem sabe até chegar prêmio no final, mas não obrigatoriamente… Eu andada um tanto desiludido, voltei a ter esperança na raça humana.

Nem sempre o sexo é objetivo maior de um programa, apesar de ser muito fácil identificar o sucesso do evento por meio do orgasmo. Pense bem, é a coisa mais ordinária da vida transar hoje em dia. Cá entre nós, mais fácil ainda se vocês se encaixarem nos requisitos que são comuns nessa linguagem de aplicativos (tipo: “LEIA 👇🏻” e todas as regras que vem a seguir). Entre as categorias mais utilizadas estão: papel sexual, geolocalização/local e numerologias em geral (idade, medidas…).

Quando ultrapassamos todas essas etapas, o que temos? Particularmente, estou sempre de olho na capacidade da pessoa de articular assuntos variados em uma conversa, de não ser pego mentindo, de ter o básico de asseio pessoal (perfume conta vários pontos) e ser minimamente transparente nas suas intenções. Pensa que estou exagerando? Vou contando ao longo do ano os casos engraçados e os apavorantes que participei ou ouvi de amigos próximos.

E dai que, me vi sentado de frente para um homossexual adulto que sabe conversar, flertar sem pesar a mão, falar de si próprio sem dominar o microfone, se interessar por você sem babar ovo… Aquele equilíbrio que é difícil de acertar e muito fácil de desandar. Bonito na medida certa, inteligente, bem-humorado… Existe isso, amigo, é só garimpar.

Pode parecer, querido leitor, que estou usando a ideia de o encontro perfeito pra mandar um recibo pra algum boy, mas não falo de ninguém especificamente. Tenho percebido apenas que, ao escolher melhor quem deixamos chegar perto da gente _para dividir nossas histórias, contato fisico e até uma refeição_ temos mais tempo de reflexão sobre o que aquele perfil tem a acrescentar na nossa vida

Ao filtrar as palavras, as fotos selecionadas e até mesmo as propostas de programas juntos para arriscar o encontro perfeito, temos mais chance de decidir nós mesmos o que queremos, orbitando além da cabeça do pênis. Há de se praticar o que se fala, mas e se a imagem que temos de nós mesmos estiver sendo transmitida de maneira errada para o mundo? Acertando isso, são grandes as chances de ter o encontro perfeito, com o bônus do sexo ou não.

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