Zak, por Bruno Gomide

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No varejo de moda, sempre existe uma tensão entre o apelo criativo e o comercial. No segmento masculino esse pêndulo é ainda mais acentuado. “Temos um olhar comercial para que nosso produto tenha capilaridade,” explica o empresário Bruno Gomide, CEO e diretor criativo da marca Zak, que com 50 anos de existência e 10 lojas em Belo Horizonte abriu em dezembro de 2019 a primeira loja em São Paulo.

“Nossa roupa sempre foi limpa nas proporções e nas cores. Acredito que para essa nova loja poderemos criar produtos que talvez não teriam visibilidade no nosso mercado original, então vamos arriscar mais nesse sentido. Teremos liberdade também em termos de preços, oferta de materiais nobres e lançamento de coleções-cápsula, tudo para subir a régua mais um pouco,” avalia Bruno Gomide sobre a flagship na rua Haddock Lobo, no Jardins.

Pela primeira vez, oferece o serviço de alfaiataria sob medida Zak Private, no segundo andar da loja. ‘’O mercado paulista era a opção natural por servir de base para crescer para outros estados e por ser o maior mercado consumidor do Brasil,” afirma ele, que pretende ainda abrir mais lojas por aqui, inclusive nos shoppings.

O histórico da Zak, no entanto, é muito mais próximo da cultura urbana paulistana e das marcas de jeans (Ellus, especificamente), do que de qualquer outra grife de terno. Começou como uma loja pequena no centro de Belo Horizonte em 1969 e, no início, funcionava metade como multimarcas e metade como marca própria.

Antes de entrar como sócio, seu pai era representante comercial em Belo Horizonte da marca de moda jovem Gledson (na qual o Nelson Alvarenga foi diretor comercial antes de abrir a Ellus) e também de outras marcas. A Gledson foi uma das marcas que emergiram na virada para os anos 1970, quando o eixo da moda começa a mudar para São Paulo, e durou até o começo dos anos 1980.

“Muitas marcas paulistas nos anos 1970 prosperaram como grandes empresas de jeanswear. Havia uma questão econômica favorável, pois a cidade cresceu muito e passou a ser representada por essa mistura cultural que é resultado da migração de libaneses, judeus, japoneses… Então criou-se uma cultura urbana em São Paulo muito forte, e isso respingou na moda,” recorda Bruno Gomide.

Nos anos 1960, as atenções estavam todas voltadas para o estilo carioca na praia, orbitando especialmente entre Ipanema e Arpoador. Em Belo Horizonte esse florescimento só foi acontecer nos anos 1980, com o Grupo Mineiro de Moda, que lançou estilistas importantes e sedimentou a ideia de uma moda autoral da região.

Antes disso acontecer, no começo dos anos 1970, a reurbanização da capital mineira foi mudando aos poucos o foco do centro da cidade para o bairro Savassi, até hoje um ponto de referência de compras. “Foi como aconteceu em São Paulo quando as lojas de roupas começaram deixar o centro para abrir na rua Augusta e em seguida no Jardins,” compara Bruno Gomide.

“A Zak era originalmente de dois amigos do meu pai que também eram seus clientes como representante. Ele tentou convencê-los a mudar para a Savassi, uma loja de esquina bem maior e com vitrines. Ficava em uma galeria, pois ainda não existiam shoppings em BH. Lá eles venderiam mais e era nisso que meu pai estava interessado. Os donos acharam o ponto caro, mas disseram que topariam se ele aceitasse o convite para ser seu sócio,” conta.

O apreço por um estilo sofisticado de se vestir está na família há muitas gerações. Seu avô começou a vida como representante de casimira e tecidos finos. “Meu pai cresceu vendo e sendo influenciado por isso. Se tornou um homem muito elegante e nos anos 1980 ele vestia Yohji Yamamoto, Comme des Garçons… Pela Zak, levou para Belo Horizonte uma moda muito fresca, nova e sofisticada.”

Desde cedo, a Zak tem tradição muito forte em linhos, em alfaiataria leve e despretensiosa e também na moda casual. E até hoje segue nessa linha casual chic. “Se um homem trabalha de camisa de todos os dias, como os farialimers, tudo que ele não quer usar camisa fora do trabalho. Então para um jantar ou festa ele veste peças fresquinhas, como uma camiseta de malha retilínea e um paletó sem forro ou ombreiras.”

São quatro linhas diferentes na Zak: além da Private, tem Day, Night e Denim. Na coleção que está nas araras, há camisas de viscose amplas estampadas, calças com tecnologia moovexx, com cós que se adapta às mudanças do corpo ao longo do dia, paletó com tecido tecnológico e short de banho estampado.

O próprio curriculum de Bruno Gomide ajudam a contar a história da Zak hoje e a razão de sua vinda para São Paulo. Aos 17 anos foi estudar Administração e Marketing por dois anos em Oxford e depois mais três em Londres.

“No inicio os anos 1990, quando o então presidente Fernando Collor abriu o Brasil para importações, meu pai me disse que queria levar os melhores tecidos e aviamentos para a Zak. Com 22 anos, passei a visitar regularmente a feira de tecidos Premiére Vision, em Paris, e trazer materiais diferenciados, como linho irlandês e cashmere escocês com botões de madrepérola, que não tinha no Brasil. E tudo era confeccionado depois no Brasil, como na Tweed de Lu Pimenta por exemplo.

Depois de trabalhar por cinco anos para a empresa da família, nessa fase de reposicionamento, em 1997 passou a trabalhar na loja da Armani em Londres, que era a marca de moda masculina mais importante da época, antes de Prada e Gucci dominarem as passarelas, capas de revistas e as ruas.

Um convite de Nelson Alvarenga para assumir a gerência de exportação da Ellus trouxe Bruno Gomide a São Paulo, numa época em que as marcas brasileiras abriram showrooms em Paris e NY. Nos anos seguintes, seguiu como executivo de grandes empresas, como a Paramount Têxtil e o departamento esportivo do grupo de calçados Vulcabrás Azaleia.

Bruno Gomide voltou em 2009 para a Zak, com a missão de fazer um novo trabalho de reposicionamento. Foi quando aumentou bastante a coleção própria e reduzindo proporcionalmente as outras marcas que ainda eram vendidas na loja _de Armani a Forum. Atualmente, são 95% de coleções próprias. O restante é dividido entre jeans Diesel, tênis Fiever e sandálias Birkenstock, que funcionam como complementos de linha.

Os costumes, todos em lã australiana, custam entre R$ 2 mil e R$ 4 mil. Já os feitos sob medida, com tecidos Dormeuil, Loro Piana ou Ermenegildo Zegna, chegam a R$ 12 mil e podem ficar prontos em até 15 dias. Dá pra sacar rapidamente para que lado está o pêndulo comercial-criativo da Zak. E por isso consegue facilmente falar com os clientes dessa fatia importante do mercado de moda masculina: 75% deles são homens de 35 a 55 anos.

É uma história distinta dos outros perfis que tenho escrito no site, como o estilista-criador Otávio Augusto, a marca curitibana de smart casual Openstudio, a multimarcas LGBTQ+ chamada loja Nó ou o design racional da Freiheit… Como todas essas outras, a Zak ajuda a compor o retrato do segmento de moda masculina no Brasil.

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