Publicidade de moda
São inúmeros os maus exemplos da publicidade de moda com temas sensíveis em campanhas e coleções. O choque vende. É um lema antigo desse mercado que teve seu ápice na era de Oliviero Toscani na Benetton. Subverter valores é parte da atualização perene desse sistema, mas é preciso responsabilizar alguém quando marcas fazem absurdos com o claro intuito de criar polêmicas.
“Quando indivíduos cometem crimes eles são cancelados, como John Galliano e Kanye West, mas não acontece o mesmo nas empresas”, aponta o comunicólogo e mestrando em arquitetura, urbanismo e design na Belas Artes, Jackson Araujo, que escreveu o texto “O mal-estar na publicidade e como a moda insiste em repetir os erros do passado”. Kate Moss perdeu contratos ao ser flagrada com drogas, porém era aplaudida na fase heroin chic da Calvin Klein.
Mesmo considerando a essência capitalista, a publicidade de moda serve como registro de uma época. Mas como justificar o cordão de enforcamento da Burberry, a propaganda da Ellus que parecia Daniella Perez, as estampas de Debret da Maria Filó que mostram pessoas escravizadas ou a campanha da Marni que retrata negros como primitivos? “É preciso avaliar o que as marcas fizeram efetivamente para mudar o rumo da história”, recomenda Jackson.
A Hugo Boss tem um posicionamento claro contra o nazismo e não esconde seu passado. A Lança Perfume não assumiu o mesmo compromisso quando foi criticada por uma coleção inspirada nos uniformes do exército alemão. “O que de fato houve em favor da diversidade quando a Gucci retirou das lojas a balaclava que imitava blackface ou a Dolce & Gabbana cancelou o desfile na China depois de mostrar uma modelo asiática comendo pizza com hashi?,” questiona Jackson.
Demna Gvasalia demorou tanto pra assumir a bomba da campanha que mostra crianças segurando ursinhos com elementos de bondage que seu pedido de desculpas perdeu a validade. É preciso ir muito além: engajar a Balenciaga e todo o grupo Kering em uma campanha contra o abuso infantil. São todos responsáveis.