Menstyle Plus, por Tiago Cunha

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Tiago Cunha @Menstyle Plus escreveu este texto no site como colaboração para contar sobre sua experiência no mercado de moda plus size.

A relação moda e peso existe desde sempre na minha vida. Eu, Tiago Cunha, já nasci gordo e fui assim a minha vida toda. Quando criança, a minha mãe e uma amiga dela tinham uma pequena fábrica de lingerie e meio que cresci ali, em meio a rolos de tecidos, papéis de modelagem e fita métrica. Acredito que isso me despertou uma paixão por aquele ecossistema, pois sempre fui uma criança que escolhia as minhas roupas e gostava muito daquilo.

Bem, criança gorda é sinônimo de saúde, de beleza e fofura e esse universo muda muito na adolescência. Esse período por si só já é terrível, mas à medida em que o tempo passava eu crescia muito e aí de fato a coisa começou a complicar para mim. Me lembro de ter 14 anos, 1,82m de altura e 96 kg. Eu gostava de roupa, mas naquele momento já não conseguia me ver em mais nada.

É muito estranho o sentimento de exclusão, principalmente quando você é muito jovem e não tem ideia do quão terrível a sociedade pode ser. Lembro que naquele período eu me sentia completamente deslocado, não achava que pertencia a lugar algum. O que eu entendi é que esse contexto rouba de você parte da sua identidade, algo muito particular e precioso.

Bem, o tempo passou e eu meio que desisti de vencer o embate. Pensava em andar basicamente bem arrumado, mas já não passava mais pela minha cabeça desenvolver meu estilo próprio ou algo assim, eu simplesmente comecei a ignorar e apenas a tocar a vida. Lembro de uma agência de publicidade que eu trabalhei onde as pessoas eram muito estilosas e eu adorava aquela estética toda, mas simplesmente não conseguia me ver inserido porque não tinha roupa para mim.

Durante esse tempo eu ainda morava no interior e me recordo da única loja plus size masculina no shopping da cidade, ela se chamava Ele Grande e era horrível. Eu simplesmente abominava a ideia de “chegar naquele ponto”. Por dois motivos: o primeiro era pela vergonha que eu tinha, pois, ao comprar ali eu assinaria um atestado de derrota e o segundo ponto é que a vitrine e as peças eram muito feias, não tinham nada a ver comigo, Tiago Cunha. Modelagens retas, jeans lavados, camisas de estampas duvidosas e por aí vai.

Qualquer saidinha para comprar um look pra mim era exaustivo, eram horas de procura, muitas idas ao provador e, consequentemente, eu tinha um sentimento de frustração. É muito louco você poder comprar e não ter o que comprar. Em 2014 eu me mudei para São Paulo e a coisa começou a mudar um pouco…

Eu gosto muito da definição da palavra “empoderamento” por Paulo Freire. Ele diz que “é a capacidade do indivíduo realizar, por si mesmo, as mudanças necessárias para evoluir e se fortalecer” e, apesar de concordar 100% com ele, na prática é bem difícil você executar esse pensamento quando tudo e todos te dizem o contrário. A realidade é que a diversidade cura.

Estar em São Paulo e conviver em sociedade com pessoas tão diferentes foi ativando uma nova forma de pensar e lidar com as minhas questões corporais, o que foi vital para mim. A partir daí eu comecei a mudar minha linha de pensamento e defini que eu poderia acessar o assunto “estilo” e cair de cabeça nele, mas para que esse pensamento evoluísse eu precisei criar alternativas para chegar lá.

Descobri algumas marcas que vendem plus size e, apesar de serem poucas que fazem um trabalho com informação de moda, eu comecei a ver possibilidades. Passei a comprar em lojas plus size femininas também, principalmente jeans e algumas peças oversized. Nesse meio tempo, algumas marcas começaram a fazer tamanhos maiores e, entre erros e acertos, comecei a ver enxergar outro caminho.

A minha última desconstrução em relação a moda foram os brechós. Eu comecei a frequentar alguns e descobri um mundo à parte. Seja em camadas mais profundas (como as de questões sustentáveis) ou mais superficiais (onde você encontra peças incríveis), o brechó virou uma realidade na minha vida. E foi assim que, passo a passo, eu, Tiago Cunha, fiz essa jornada de desconstrução e autodescobrimento, que impactou diretamente a minha relação com a moda.

This Post Has 3 Comments
  1. Excelente texto Tiago. Compartilha com a gente o nome das marcas onde você encontra plus size bacanas. Sou gordinho e me vejo bastante nas situações que você trouxe. Se puder compartilhar as marcas que tem produtos interessantes, agradeço. Abraços!

  2. Texto incrível! Cunha é pura superação e nos ensina a cada dia com sua capacidade de observar o mundo e a pluralidade que nos cerca. Arrasou.

  3. Texto bapho! O mercado plus size, felizmente deu um boom nos últimos tempos e ficou acessível a todos os biótipos, sem restringir por causa de padrões pré estabelecidos.

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