Cânhamo industrial
O cânhamo industrial, como é chamada no mercado a fibra da cannabis, é uma alternativa sustentável social e ambientalmente ao algodão na confecção de roupas. Extraído de uma versão da Cannabis Sativa com baixo teor de THC, não é a mesma planta que a usada para fumar.
O Brasil é conhecido como um dos maiores produtores de algodão do mundo, tendo uma parcela significativa do PIB nacional sobre a plantio e venda deste commodity. Porém, apenas 1% do algodão produzido no país é orgânico, aquele que têm impacto menor na natureza, segundo informa dados do Ministério da Agricultura.
Isso apresenta um risco ambiental considerável, uma vez que o plantio do algodão têm algumas características danosas à natureza, como a necessidade de grande aplicações de agrotóxicos (cerca de 23 litros por hectare, segundo estudos da Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT), e seu cultivo em grande escala, sendo de 54 a 201 quilogramas de fibra por acre.
O reconhecimento do cânhamo como opção viável de material para a indústria têxtil não vem de hoje, mas o que vem trazendo-o de volta à pauta são os países que vem descriminalizando o plantio. Entende-se que a fibra foi a primeira utilizada na fabricação de tecidos no mundo, sendo encontrado fósseis de cordas datados de mais de 15 mil anos, para se ter uma ideia.
A produção de cânhamo começou a ser tratada como um problema quando o algodão teve seu auge de produção em larga escala, mas o que tornou o plantio problemático foi a ascensão de fios sintéticos, sendo exemplos o nylon e poliéster, surgidos no início do século 20.
Na década de 1920, o uso social da cannabis aumentou motivado pela lei seca, aquela que proibia o consumo de bebidas alcoólicas nos EUA. Na época, houve campanhas anti-cânhamo nos Estados Unidos, dizendo que a maconha incentivava o crime e a libertinagem, utilizando visões preconceituosas e racistas, com dados deturpados e mal-investigados para comprovar seu posicionamento.
A partir daí, em 1930, o país iniciou o combate aos narcóticos e passou a incluir a erva junto outras drogas nocivas, como o ópio. Em 1950, motivado por negociadores de diversas indústrias, como a têxtil, que iniciou a empreitada de fibras sintéticas, os Estados Unidos proibiram o plantio e o consumo de cânhamo, iniciando também uma campanha de pressão em cima de outro países, em exemplo o Canadá e o Brasil.
Por aqui, a utilização da cannabis era recorrente desde sua invasão portuguesa em 1500, que trouxe os europeus em caravelas feitas de cânhamo. Com o passar dos anos, diversos médicos passaram a incentivar o uso para tratar estresse e bloqueio criativo, inclusive, a coroa portuguesa incentivava o uso e o plantio, como citado na reportagem da revista Galileu sobre a guerra contra a planta no Brasil.
A proibição aqui só aconteceu por pressão dos EUA, associando o consumo às populações negras, que eram as que mais consumiam em manifestações religiosas e culturais, na finalidade de encarcerá-las, já que historicamente são grupos marginalizados.
Hoje os mesmos Estados Unidos que incentivaram a perseguição contra a planta, liberaram o consumo e o plantio em diversos distritos, também para outros fins que não o do fumo, citando o da produção têxtil, por entender que ele é economicamente viável e ecologicamente correto.
A produção da fibra de cânhamo é feita com baixo custo em grande escala, em 220 a 367 quilogramas de fibra por acre, o que já a torna mais produtivo que o algodão. Ela também é mais biodegradável e resistente que as outras fibras, entre naturais e artificiais.
O plantio também é fértil em qualquer solo, e não necessita de agrotóxicos, tendo assim um sistema autônomo que evita a erosão do solo. Seu tempo de amadurecimento, diferentemente do algodão que é 9 meses, é de 90 dias, o que faz com que seja plantado em mais épocas do ano.
Quando fala-se de usabilidade, o cânhamo quando transformado em tecido para confecção de roupas obtém uma maciez semelhante ao algodão. Além disso, é um incrível isolante térmico por conta de ser uma fibra oca, permanecendo quente no inverno e refrescante no verão. Com essa estrutura, a vantagem do verão não para por aí, já que ele absorve os raios infravermelhos em até 95%, assim como a umidade do corpo.
No fator social, o cânhamo ganha mais um ponto. Na Índia, a maconha cresce como matéria-prima importante da produção têxtil, o que vêm salvando fazendeiros da falência e do suicídio. Um estudo apresentado em 2017 pela revista Forbes apresenta que agricultores quando tentavam cultivar seu algodão com base na chuva têm mais chances de entrar em um ciclo de dívidas e se suicidar. Pelo plantio do cânhamo ser apropriado para a região, a durabilidade da safra e a vendagem cria um impacto gigantesco em suas vidas.
No mercado, diversas marcas já produziram peças com cânhamo, sendo Calvin Klein, Levi’s e Adidas as mais populares, com coleções inteiras feitas com base na fibra, da mesma forma que nacionalmente a Reserva tem investido no mercado.