Uma X, por Vanessa Davidowicz
Com lançamento inicialmente previsto para abril de 2020, mas adiado por conta da pandemia de Coronavírus, a Uma X estreou neste mês de julho de 2020 como uma linha sustentável idealizada por Vanessa Davidowicz, filha de Raquel e Roberto Davidowicz, que fundaram a marca de moda contemporânea Uma em 1996.
Com 27 anos, Vanessa é responsável pelo projeto da Uma X, que conta com design de Raquel e sua equipe de estilo, tem foco num público mais jovem, preços mais acessíveis que a original (entre R$ 155 e R$ 795), sem calendário fixo de lançamento e proposta sem gênero.
Vanessa estudou Fashion Business no Instituto Marangoni, em Milão, e fez estágios em diferentes empresas (não apenas de moda) para entender o mercado como um todo, como as agências de publicidade África e JW Thompson e a revista Harper’s Bazaar, e colaborou também com projetos sociais como voluntária.
“Logo que me formei fui trabalhar na Farfetch. Foi uma ótima iniciação em toda essa parte de e-commerce, pois é um marketplace internacional. E por isso, há cerca de dois anos, quando fui trabalhar na Uma, entrei para liderar a área de marketing digital e branding. Quando eu fiz essa mudança já tinha vontade de trazer algo novo pra marca, como novas pessoas com habilidades diferentes do que a Uma estava acostumada,” explica ela, sobre o embrião do projeto da Uma X.
Então, começou a pensar em como trazer uma proposta colaborativa, para alinhar inovação e transparência, pois via que cada vez mais o consumidor jovem busca outro tipo de informação na jornada de compra. E queria fazer isso de uma forma que ainda estivesse dentro da Uma.
O tempo de execução da Uma X foi de cerca de um ano, para estudar inovação em tecidos, em como criar essas modelagens e em como comunicar isso de uma forma mais atual… “Na hora que o projeto estava para ser lançado, veio esse momento Covid-19. Tivemos que fechar as lojas e adiar o lançamento até quando víssemos um pouco mais de otimismo e oportunidades. Esse momento de isolamento social foi muito importante para repensar a estratégia da Uma X e entender o que que de fato esse consumidor vai querer a partir de agora.”
Para Vanessa, a coleção tem muito a ver com esse novo momento e com essa nova forma de consumir, que é muito mais digital. “São peças que você pode ficar casa, mas que ao mesmo tempo você pode sair, trabalhar fora ou encontrar os amigos _no momento em que volte a alguma normalidade. Não tem restrição, e por isso acreditamos que trazemos uma linha que, na verdade, acabou sendo mais relevante do que nunca.”
A personalidade da Uma já é contemporânea, com uma pegada urbana e que preza muito pelo conforto. Não foi difícil fazer desses os pilares da Uma X. Porém, a marca-mãe sempre teve uma relação muito forte com os eventos físicos, com arte e dança e o próprio Uma Refeitório há um tempo atrás, que era no mesmo espaço da loja da Vila Madalena.
“No começo a estratégia era fazer um lançamento presencial, sim, mas a Uma X nasceu pra ser uma marca mais digital do que física, assim, a gente refez nosso site e estamos trabalhando nas redes sociais, principalmente o Instagram. Temos uma equipe de marketing digital, que trabalha as estratégias de Google, Facebook e parametrização. É um outro mundo, bem técnico, na verdade não tem muito a ver com moda, mas é algo super importante que a gente trouxe pra dentro da marca,” avalia.
A Uma já teve uma linha masculina, que foi descontinuada (apesar de algumas peças femininas ainda fazerem sucesso com esse público). Mas a Uma X já nasce sem gênero. “Quando começamos a desenhar a linha, queríamos algo que fosse de fato pra todos. O estilo da Uma traz uma androginia que funciona muito bem em qualquer pessoa, sem forçar que seja algo que é de um que veste o outro ou que que vista a todos. A ideia é deixar um espaço livre pra escolha. E aí o que a gente acabou fazendo foi um estudo com uma modelagem ampla que funcione tanto pra mulheres quanto pra homens e que nada fique muito preso ao gênero,” explica.
Pensando na estratégia de varejo, não vai haver distinção de arara masculina ou feminina na loja e nem no site. “A coleção é toda híbrida: no próprio site as peças são mostradas em um modelo masculino e uma modelo feminina e gente explica lá que a numeração é mais ampla. A nova geração não busca algo pelo gênero, como ‘quero ir numa marca que só faz roupa masculina’. Quanto menos rótulos, melhor.”
Cada peça de Uma X promete algum tipo de inovação sustentável, como economia de água no processo de acabamento, procedimentos biodegradáveis e diminuição de matéria-prima virgem e substâncias químicas, como o algodão orgânico com tingmento natural. Em destaque, a tecnologia Econyl, um tipo de nylon regenerado e 100% reciclado.
Produzido a partir de redes de pesca, resíduos plásticos e têxteis coletados em oceanos, o Econyl já é usado pela Prada. Seu impacto é de menos 80% em termos de aquecimento global e emissão de CO2 do que o nylon virgem. O material é de uma empresa que tem a venda restrita e para trabalhar com eles é preciso ser homologado pela própria Acquafil e a Uma X foi a primeira marca brasileira a ter esse certificado.
“Trabalhamos também com uma empresa que fornece os fios que tem um projeto social para ajudar a comunidade no entorno dessa fábrica. E dentro da própria Uma X já somos parceiros do projeto PECP (Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis) um programa que faz distribuição de kits de higiene e cestas básicas para famílias em situação de risco durante os primeiros meses da pandemia no Brasil. Eles agora estão reestruturando o espaço de capacitação profissional, como cursos de corte e costura, para pessoas da comunidade que perderam seus empregos ou precisam se recolocar no mercado. Há ainda um espaço de educação para ajudar alunos que não têm recursos necessários para cumprir o ensino à distância,” descreve.
A Uma X está agora também vendendo equipamentos de proteção, com o lucro indo diretamente para esses projetos citados acima. “As máscaras são feitas com tecidos do estoque que não estavam sendo usados, em esquema de upcycling, e estudamos esse material para que elas fossem mais eficazes. Aprendemos que duas camadas de algodão e uma camada de seda fazem realmente uma proteção muito boa contra qualquer resíduo que vem de fora.”