O punk barroco de Judy Blame
A noticia da morte do superstylist inglês Judy Blame, aos 58 anos, circulou bem cedo nesta manhã de terça-feira (20.02). Conheci ele em uma de suas visitas ao Brasil, em 2005, quando o entrevistei sobre para uma reportagem na Folha de S.Paulo com a delegação de imprensa internacional que vinha cobrir uma temporada do SPFW (e encontrei muitas outras vezes depois). Leia um trecho do texto abaixo.
O Brasil copia? Para o stylist britânico Judy Blame, que fez história na revista ‘The Face’ nos anos 80 e agora acaba de fechar um contrato para assinar linhas de acessórios para a Comme des Garçons e Helmut Lang, é comum localizar a mesma inspiração em desfiles diferentes. Para ele, que já assinou trabalhos de styling para Carlos Miele e está aqui desta vez para realizar um editorial com peças brasileiras e internacionais para a revista ‘i-D’, a produção brasileira tem atingido ótimos resultados, apesar de não ter a mesma tradição que os europeus na moda. Blame, na quarta viagem ao evento, ficou surpreso com a estrutura já quando veio pela primeira vez. ‘Os ingleses são muito desorganizados’, compara.
Diretor de arte, ícone punk e club kid, Judy Blame ficou conhecido nos anos 1980 ao criar com John Moore o coletivo de artistas The House of Beauty and Culture, onde ele desenvolvia acessórios com materiais de descarte. Desde então, além do trabalho como designer de acessórios, atuou como consultor criativo em colaborações de moda.
Trabalhou com os estilistas John Galliano, Rei Kawakubo da Comme des Garçons, Gareth Pugh, Marc Jacobs e Kim Jones na Louis Vuitton. Como stylist, assinava capas e editoriais de revistas (The Face and i-D) e vestiu os músicos Boy George e Neneh Cherry por anos com suas peças. Colaborou ainda com figurinos e acessórios no primeiro álbum de Björk, em várias turnês de Kylie Minogue e em alguns videoclipes do Massive Attack.
Judy, um nome feminino, não é o registro verdadeiro (nem Blame!). Ambos foram apelidos dados por amigos e ele nunca revelava o original. Retratam um pouco do humor despachado e de contrastes que marcava sua personalidade. Perdemos um importante criador de moda, mas também um registro da noite e da cultura gay da época em que liberdade era, mais do que um direito, uma questão de sobrevivência. Viva, Judy.
