Do Desejo de Horizontes
Assisti essa semana ao espetáculo “Do Desejo de Horizontes”, de Salia Sanou, um coreógrafo de Burquina Faso que se apresentou duas vezes no teatro do Sesc Vila Mariana, com a companhia de dança que mantém na capital Ouagadougou. O nome original em francês é “Du Désir d’Horizons”.
Como crítico de balé que eu não sou, me reservo a descrever minhas impressões como convidado. Se no Grupo Corpo dá pra perceber o treinamento dos modelos na técnica de balé clássico, nesta peça eu consigo ler claramente a linguagem de dança contemporânea. Os movimentos parecem mais expressivos, como ao bater os pés no chão (uma das características desta modalidade é o uso do tablado como objeto de cena).
Assisto normalmente sem ler o folheto, que é pra tentar entender algo sozinho antes de tudo. Mas tomo dele as palavras que usa para descrever a obra: solidão, alteridade, coletivo e exílio. Sem se pretender documental, “Do Desejo de Horizontes” aborda questões dos refugiados e fluxos migratórios, mas sem definir exatamente entre quais fronteiras.
Mostram as ondas do mar, por exemplo, em uma coreografia de movimentos leves, com o uso interessante de várias espreguiçadeiras como recurso. O figurino faz citações sutis a este ambiente, nas roupas retas e neutras, em cartela de tons terrosos e apagados. Muitas vezes se passa em silêncio total, só com o som dos movimentos dos bailarinos.
Vindo de onde vem, ele tem lugar de fala. Burkina Faso tem um dos menores PIB em valores per capita no mundo e é um lugar onde a prática de escravidão ainda é comum. Salia Sanou fez uma residência em assentamentos na região para criar a coreografia. Forte, mas nada pesado.