Queer Eye for the Straight Guy

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“Queer Eye for the Straight Guy” é um dos primeiros reality-shows da TV, lançado nos anos 2000 e baseado no conceito de “bicha amiga”. Naquela época, gays eram mais facilmente aceitos socialmente se fossem vistos como refinados amigos de estimação: para ajudar a escolher o vinho, como conselheiro de estilo dos bofes ou confidentes das meninas hetero.

Não esqueça que é da mesma época o movimento metrossexual, quando os homens passaram a aceitar que não podiam mais ser ogros e precisavam cuidar da sua imagem, mesmo que isso parecesse um pouco “coisa de viado”. Então eles estavam mesmo dispostos a servirem de cobaias.

“Queer Eye” teve enorme repercussão quando estreou em 2003 e durou seis temporadas, principalmente por propagar essa ideia de que era legal ter um amigo gay (ainda que de modo caricatural).

Os Fab Five originais eram Ted Allen (gastronomia), Kyan Douglas (cuidados pessoais), Thom Filicia (decoração), Carson Kressley (estilo) e Jai Rodriguez (cultura). Eram caricatos, porém representavam uma identidade gay que realmente existiu.

Eu participei da versão brasileira do livro, lançado logo no ano seguinte, como consultor para a tradução das gírias e termos gays, do inglês para o português. Pajubá forte.

Os cinco novos são igualmente caricatos, e o tempero de contemporaneidade agora está na diversidade do elenco. Cansa um pouco o personagem de Jonathan van Ness (cuidados pessoais), que força o tempo todo ser muito alegre e divertido. Já Antoni Porowski (gastronomia) é um padrãozinho gracinha, só que acrescenta bem pouco em sua área.

Bobby Berk (decoração) se destaca pois é onde vemos o maior investimento de verba da produção. Karamo Brown (cultura) é uma beleza e serve como mediador, mas não fala quase nada do seu assunto. Como consultor de moda, Tan France (estilo) serve mais como arrumador de armário do que como stylist, o que tem a ver afinal com a proposta da série.

Ainda assim, a série é surpreendentemente divertida. Em particular pelo elenco de ogros tão simpáticos que eles têm pra “melhorar”. Os pontos altos são as mudanças de aparência (o cabeleireiro é bom, afinal…) e da casa. Só que o processo de transformação mal aparece em cada episódio, para focar mais nas interações entre os especialistas e nos discursos bem ensaiados com um verniz de política.

De qualquer forma, “Queer Eye” sempre foi uma série bem-intencionada, num sentido de ajudar as pessoas a encontrarem sua melhor parte, que é o princípio de uma boa consultoria de moda. Nunca cai na armadilha de humilhação e muito menos fala sobre consumismo. Apesar de toda caricatice, dei boas risadas com a nova versão e até me emocionei algumas vezes. Quem é a caricata afinal?

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